03/10/2011

COLDPLAY (MY GOD!!!!)



DELÍRIO SOB CÉU ABERTO!
E A VOZ DAS NOITES
DAS MADRUGADAS
DOS DRINKS
DA VELOCIDADE
DOS EXCESSOS
PREENCHEU A NOITE DE EUFORIA
BELEZA
SONS
CORES
SUORES
ACORDES PERFEITOS
MÁGICOS
EXTASIANTES
INESQUECÍVEIS!

SUELY SOUSA


15/09/2011

SENSIBILIDADE PERDIDA

Hoje não sorri com a inocência das crianças
Não me sensibilizei com a fragilidade dos idosos
Não me preocupei com a jovem que cheirava cola
Não me surpreendi ao saber que um homem havia sido friamente assassinado
Não me comovi ao saber que águas invadiram cidades, destruindo sonhos, esforços.
Pensava em mim...
Meus problemas
Minhas carências
Minhas desilusões
Meus anseios
Enquanto aguardava com ansiedade, diante do semáforo, o sinal verde.
Esquecida que estava a pé!
E ele veio...
E trouxe-me a sensibilidade perdida.


Suely Sousa
Recife/PE

21/08/2011

LUIZ GONZAGA - REI DO BAIÃO


A pele curtida pelo sol do Sertão
As mãos ásperas pelo roçar da sanfona.
Assim se foi o Rei do Baião
Pleno em sua arte
Maduro na vivência
Absoluto em seu reinado.
Ilustre filho do Sertão!
Quantas músicas
Quantas histórias
Quantas idas e vindas
Quantas lembranças.
Lembranças de um Nordeste em festa
Fogueiras ardendo
Mesas fartas
Fogos cortando as noites
E a chuva fina abençoando a terra.
E a fumaça
E o cheiro da terra
E a música
E Luiz Gonzaga
Cantando as dores
e alegrias do Sertão.
Filho ilustre!
Ilustre filho do Sertão!


Suely Sousa
Recife/PE

12/08/2011

DESABAFO


Queria um sentimento que me arrebatasse
Que a sua ausência me esvaziasse
Queria um amor incondicional
Profundo
Intenso
Verdadeiro,
Mas meus amores foram banais
Frágeis
Egoístas
Condicionais.
Amores sem risos
E sem lágrimas.
Amores sem lembranças
E sem nenhuma saudade.

Suely Sousa

27/07/2011

MENSAGEM INTRÍNSECA - PRESIDENTE LULA






      
Próximo se fazia das oito horas da noite. Sem pressa vestiu seu pijama, escovou os dentes, penteou os cabelos e a barba e dirigiu-se para a sala de vídeo. Sentou-se em uma confortável poltrona colocando os pés num puff e as costas numa pequena almofada de seda. A sala, ampla e elegante, estava repleta de objetos de valor, muitos deles trazidos de longe - memórias vivas de suas andanças pelo mundo. Seu olhar deteve-se numa pequena estatueta de bronze, recebida num momento difícil de sua vida pública, onde estiveram prestes a ruir todos os seus projetos mais entusiasmados e audaciosos. Passou a mão na barba como a buscar a realidade daqueles momentos. Seu semblante endureceu ao recordar companheiros que, na avidez de dinheiro e posição, o tinham apunhalado pelas costas. Quantos deixaram cair suas máscaras mostrando desejos imbecis de subestimá-lo. Quantos, mais poderosos, tiveram suas máscaras de ferro arrancadas, ao exibirem em suas mãos as digitais apagadas pela avidez da ganância.
O televisor acordara-lhe os pensamentos pela chamada do noticiário. Uma mulher elegante, de fisionomia austera, invadiu a sala. Estava rodeada de repórteres e respondia irritada, algumas perguntas a ela dirigidas. De repente sentiu-se como que a incorporando – sabia tudo o que ela estava passando - temeu que em sua irritabilidade ela colocasse uma vírgula indevida em alguma frase, o que seria suficiente para que tivesse todo seu pensamento distorcido. Enquanto a mulher falava, recordou-se de quantas foram as vezes em que também assim estivera. Não era mais o foco das atenções, mas por muito tempo ainda seu nome estaria ligado a todos os acontecimentos políticos de seu país. De repente lembrou-se de um sonho que tivera e sorriu da mensagem intrínseca que ele deixara - O HOMEM QUE PENSA EM SER PRESIDENTE, DEVERÁ PENSAR PRIMEIRAMENTE EM SER EX-PRESIDENTE. A princípio desprezara tal raciocínio, mas ao longo do dia passara a buscar a compreensão daquela mensagem. Sorriu ao lembrar-se de um amigo ao qual contara o sonho. Dissera-lhe ele:
- Amigo você não quebrou a barreira do tempo e sonhou atrasado, ou seja, já eras ex-presidente quando tivestes esse sonho, mas não te preocupes com essa mensagem, inconscientemente já te preparavas para quando esse momento chegasse. Fizeste um belo governo! Mas passe para ela a mensagem do teu sonho!
E sorrindo complementou:
- Quanto a mim se tivesse pensado que viria a ser ex-marido jamais teria casado!
Brincadeira à parte sentira uma sensação estranha a incomodar-lhe: números, cifras, relatórios, deputados, governadores, etc., passaram em sua mente como coadjuvantes de um grande filme onde era protagonista. Governara seu país por oito anos. Quanta responsabilidade tivera em suas mãos. Quantos sorriram ou choraram às suas decisões.
A vida reservara-lhe o que em sonhos não ousara sonhar. Como poderia, enquanto vendedor ambulante, engraxate, office-boy ou aprendiz de torneiro mecânico, pensar em ocupar o cargo máximo do seu país? Logo ele que tão pouco tempo havia dedicado aos estudos. Jamais! Porém sua vontade determinada de lutar pela igualdade social fizera-o galgar degraus de forma inusitada e logo estava aliado a intelectuais e líderes sindicais a fundar um partido político. Pensou no sonho - tinha a consciência do dever cumprido, fizera muito do que tinha prometido durante a sua campanha sabia, entretanto, que muito também ficara por fazer, os anos passaram rapidamente e muitos projetos iniciados não puderam ser concluídos, passara adiante o bastão, entregando-o em mãos na qual plenamente confiava. Mas e os abutres? Seriam eles descobertos a tempo de não comprometerem todo um trabalho? Só o futuro daria a resposta às suas perguntas.
A entrevista prosseguia com perguntas sobre taxas de juros, câmbio, ajustes fiscais, etc., e para todas elas as respostas eram claras e firmes. Um jornalista, declaradamente da oposição, perguntou sobre os programas sociais, questionando-a se iria mantê-los. Naquele momento ele sentiu-se como um técnico de futebol à beira do gramado desejando entrar no jogo e defini-lo. Levantou-se da poltrona encaminhando-se ao televisor desejando poder alertar a mulher quanto ao que deveria responder, porém ficou dividido pelo tempo e inquieto por não conseguir conjugar, na primeira pessoa, verbos no futuro do pretérito - Na verdade não queria estar absorvendo os problemas como se lhe coubesse solucioná-los. Algumas conjunções incômodas atrapalhavam seu raciocínio. Mergulhado em pensamentos não ouvira tudo o que ela respondera, mas o seu nome havia sido falado ao final da entrevista. Ligou para o amigo perguntando o que fora dito sobre ele. E o amigo disse:
- Ela, ao ser comparada a ti, disse que a estrada ainda é bastante longa para alcançar-te e que a continuidade de todos os programas sociais do teu governo é questão de honra.
E em tom de brincadeira complementou:
- Quanto a mensagem do teu sonho, só para ilustrá-la, tu já pensaste se ao invés de ti fosse o Bush que a tivesse recebido? Das duas uma: ou ele teria desistido de candidatar-se a ser presidente ou não teria sido alvo daquela sapatada.
E ambos sorriram ao lembrarem o lado cômico da cena.


Suely Sousa
Recife/PE

21/07/2011

IDEAL PERDIDO

O homem que eu amei
jamais existiu!
Ele vivia em minha mente
até o dia em que partiu.
Partiu porque eu fiz dele
naquele corpo a sua extensão
e ele foi se perdendo
em meio à confusão.
Eu o vi naquele sorriso
Naquele jeito brincalhão
Naquele olhar misterioso
Naquela determinação.
Joguei então na sorte
com a minha vida a apostar
que ali estava o homem
que eu estava a procurar.
Vieram então as brigas
os conflitos de opinião
grosserias inesperadas
e uma enorme decepção:
De ver o meu ideal perdido
depois de tanta retenção,
por uma atitude precipitada
pela carência e a solidão.
Mas quero trazê-lo de volta
e revesti-lo de proteção,
para que não mais se exponha
a confundir-me o coração.

Suely Sousa

15/07/2011

AMOR VIRTUAL


Busco-te em minha solidão,
em minha ânsia,
em minha esperança.
Busco-te nas palavras,
nas linhas,
nas estrelinhas.
Busco-te pelas manhãs
em meio aos afazeres do dia
temendo que logo encontres
quem te faça companhia.
Busco-te nas noites
estejam quentes ou frias
ou até ser vencida a insônia
pelo cansaço do dia.
Busco-te com olhos vidrados
garimpando na tela
te procurando pelo tato
sem rosto
sem traços.

Suely Sousa

14/07/2011

PUBLICITÁRIOS (PERFIL)

Buscam palavras,
cores,
efeitos.
Mentalizam envolver-te
comover-te,
sensibilizar-te.
Criam em ti necessidades.
Estimulam teus desejos,
carências,
frivolidades.
Escondem tuas imperfeições.
Chacoalham teu ego.
Ativam teus gostos,
tuas preferências.
Vêem-se em ti!
Sentimentos abertos,
Olhos prostrados,
Atentos!
Traçam tua personalidade.
Identificam teu perfil,
Imaginam teus anseios,
prioridades.
Aliam sensibilidade,
inteligência,
esperteza.
Jogam suas redes infalíveis...
Trazem-te vencido
Satisfeito (???)
Dominado!
Assim são eles:
Estrategistas convictos.
Vendedores de desejos,
Compradores de desafios.

Suely Sousa
Recife/PE

08/07/2011

FILHOS DE ESTUPROS

 
Um rapaz angustiado por uma história do passado, mas não era uma história qualquer, era a história da sua vida, mais precisamente da sua concepção. Um rapaz que buscava nas fisionomias que por ele passavam, uma que pudesse conter o código da sua geração, que temia seus desejos, preso aos fantasmas que trafegavam na sua história.

LIVRO EDITADO EM 2008 - EDITORA NOVO HORIZONTE RECIFE/PE

Página 26   


- Filho, não fique obcecado por esta história. Muitos são os filhos apenas do sexo. O fato de uma pessoa ter pai e mãe não significa que tenha havido amor em sua concepção, muitas vezes há amor, mas o filho não estava sendo desejado naquele momento, entende? Muitos rapazes, assim como você, tornam-se pais sem querer, e assim por diante. O meu sofrimento maior é não saber quem é ele, não por mim, mas por você, por essa cobrança que é feita, por essa hipocrisia de todos pensarem que são filhos do amor.



E-mail - suelybsousa@hotmail.com

NIPPON


Aonde o sol chegou primeiro
mais cedo a noite se fez
e olhos que inchados se abriram
ainda “inchados” fecharam-se outra vez.
Adormeceram os sorrisos tímidos
as mentes fervilhantes de imaginação
abriram-se mãos calejadas
sobre futons macios estendidos no chão.
E a ilha mergulhou em sonhos
quando um grande estrondo se fez...
e a Pangea voltou gloriosa
juntando ilhas e continentes outra vez!
Mas o sol se fez mais forte
e iluminou outra vez o Japão
que aliviado acordou sorrindo
vendo o mar banhar o seu chão.

Suely Sousa
Recife/PE


05/07/2011

VIAGENS MÁGICAS

Thiago estava num grande dilema – pensou, pensou e, por fim, resolveu apenas imaginar sua ida a Holanda. Deitou cobrindo-se até a altura do pescoço, fez um exercício de relaxamento e ficou aguardando a grande viagem. Era assim que ele conhecia o mundo e, supostamente, as pessoas.

Thiago era puro espírito! Ele não concebia uma integração perfeita entre seu corpo e seu espírito, achava complicado deslocar-se até onde desejava e, assim, transcendia ao tempo viajando pelos continentes.

Pensei de início que talvez fosse ele apenas um sonhador, um escritor que se entregava ao pensamento, mas Thiago era diferente, ele voltava de suas “viagens” como se em verdade elas tivessem ocorrido. Não havia alucinógenos ou qualquer processo de indução àquelas viagens.

Observei-o em sua “chegada” ele estava feliz e bastante falante, disse ter conhecido lugares maravilhosos e em um deles uma garota portadora de uma enfermidade incurável, mas que lhe dissera que era feliz por tudo que já tinha ganhado da vida. Disse também que gostaria de ser como ele, para conhecer muitos países e pessoas de todo o mundo. Eu o olhei intrigado - Seria ele um louco? Mas que loucura tão fascinante era aquela que proporcionava tantas oportunidades de conhecimentos? Resguardei-me. Era hora de sairmos para almoçar. Ele olhou para mim e com um leve sorriso perguntou se teria mesmo que “levá-lo”, eu sabia que ele estava se referindo ao seu corpo e respondi-lhe, com ar de cumplicidade, que teria que levá-lo.

Eu não tinha o dom de afastar-me assim tão livremente, meu pensamento era induzido, preso por conceitos, valores, afetos, desafetos. Thiago era livre! Ele não buscava as mesmas coisas que buscam a maioria das pessoas, ele buscava a mansidão, a serenidade, a felicidade, o amor. E ele as encontrava em suas viagens mágicas.

Pergunte-lhe um dia: Você não gostaria de ir a uma favela, um hospital ou a uma penitenciária? Lá estão os doentes do corpo e da alma. Eles ficam aflitos em busca de uma palavra para aliviar-lhes as dores.

Ele olhou para mim, como que penetrando a minha alma, e disse:

- Eu procuro visitá-los sempre, porém eles não me vêem nem me ouvem, mas sentem-se um pouco mais aliviados. Se eu for em realidade estarei levando meus limites!

Depois sorrindo disse: Você não entende o que falo, acha que sou um louco, um pretensioso que pensa ser Deus, não é?

E continuou: Eu sou apenas um viajante que aprendeu a encurtar caminhos. Não preciso morrer para saber o que é a morte e digo-lhe que qualquer pessoa pode conseguir viajar sem drogas ou alucinógenos, apenas aprofundando o desejo, direcionando a mente a libertar-se do corpo, e assim, solto, eu vou longe...

Fomos almoçar. Ele serviu-se de porções mínimas, bebeu meio copo d’água, apreciando sua limpidez, falou sobre o universo e também sobre as profundezas da terra, agradecendo o alimento e a todos que o serviram. Depois sorriu, um sorriso iluminado.

Criatura fantástica, pensei.

SUELY SOUSA

01/07/2011

REFLEXÃO

O FUTURO DO MEU PASSADO
NÃO É O MEU PRESENTE
NEM DEVE SER CONJUGADO.
O FUTURO DO MEU PASSADO
FICOU NUM CANTO RECUADO
PERDIDO ENTRE CONCEITOS
DO CERTO E DO ERRADO
DE UM TEMPO LOUCO
E APAIXONADO.
VIVIDO!
MAS NÃO CONJUGADO.


SUELY SOUSA
RECIFE/PE

30/06/2011

O HOMEM QUE ESCREVIA NOVELAS


Um homem andava inquieto pela praia deserta, por vezes pisava na água, outras erguia os braços abertos para o céu e em outras vezes parava com o olhar fixo no horizonte. Eu sabia quem era ele e entendia, sem ele saber, a sua angústia. Não me cabia, entretanto, ajudá-lo. Nem ele aceitaria se eu me oferecesse.

Um ônibus cheio de turistas parou próximo ao local onde ele estava. Algumas pessoas o reconheceram e diziam umas para as outras - Ele é o homem que escreve novelas! O barulho das pessoas o irritou. As tentativas de aproximarem-se dele foram frustradas pela sua saída repentina. Eu quis segui-lo, todavia ele foi mais rápido e logo o perdi de vista. Sabia, porém, que amanhã ele estaria ali de volta.

Aquele homem era autor da novela de maior audiência do momento. Todos queriam questioná-lo sobre o assassino misterioso, que deixava a todos assustados e curiosos.

À noite assistindo a novela, sentado em minha confortável poltrona, eu imaginava o desfecho daquela trama. O seu senso de justiça sempre aflorava ao determinar o destino de cada um de seus personagens. Mas desta vez ele apaixonara-se pela mais bela vilã que criara - não queria matá-la, nem queria fazê-la sofrer. Sentia que desta forma estava sendo injusto para com todos os outros personagens - todos lhe cobravam um desfecho trágico para ela. Ele sofria com isso. Adorava a todos eles. Cada um extraíra um pouco da sua alma, o que fazia com que sofresse mais do que de outras vezes ao traçar-lhes os destinos.

No dia seguinte, no mesmo horário, encontrei-o sentado na areia rabiscando alguma coisa no chão. Não havia como enxergar o que ele fazia, até que, já de pé, ele desenhou um enorme rosto, com uma boca bem definida e olhos puxados emoldurando-o com cabelos cacheados. Sabia que aqueles traços eram da sua bela vilã, intrigou-me, entretanto, um pequeno círculo que fizera em sua testa, depois voltou a sentar-se no chão. Percebi que chorava. Não entendia seu sofrimento! De repente chegou a sua idolatrada atriz. Discutiram. Com movimentos bruscos ela apagou do chão o desenho que ele fizera. Aproximei-me sem ser notado e ouvi a discussão.

Disse ela:

- Você não pode matá-la! Tantas pessoas como ela se dão bem na vida. Por que fazer esse desfecho?

A sua vilã não era apenas uma pessoa má, era terrivelmente cruel e vingativa. Sentiu, ali, que deveria matá-la o quanto antes, precisava urgentemente salvar sua bela atriz. Abraçou-a com delicadeza sentando-a na areia ao seu lado e, carinhosamente, disse:

- Não compete a você decidir o destino dela. Você tem que fazer o que eu vou determinar que seja feito.

Ela, nervosa, contestou:

- Eu sou contra a idéia de matá-la! Dê-lhe um sofrimento capaz de fazê-la mudar e faça com que ela peça perdão a todos que fez sofrer.

Ele a olhou demonstrando estar realmente preocupado sentia que ela estava perdendo a sua identidade - ela entregara-se por completo àquele personagem e não estava conseguindo separar-se dele, os fantasmas de suas vítimas a atormentavam. Ele sentia-se culpado pelo seu sofrimento. Toda maldade que fora capaz de imaginar pusera para que ela incorporasse e agora era preciso que, a bem da moral da história, ela pagasse pelo que fez. Porém o lado sedutor do personagem o fascinava - Ela era sua criação! Cada palavra, cada sorriso, cada maldade, tudo era fruto da sua mente e agora ele também sofria por expurgá-la. Mas tinha que libertar a sua adorada atriz daquele personagem perverso.

Ambos permaneceram abraçados sentados na areia da praia. Voltei para a minha realidade. Sabia que veria em breve o resultado daquele encontro.

Enfim o grande dia. Cena a cena tudo ia se resolvendo: Crianças brincando, casamentos se concretizando. Um a um cada personagem ia tendo seu destino traçado. Chegara o momento crucial. Numa grande festa, no sexto andar de um edifício, a sua bela vilã surge na sacada da varanda. Todos os olhares se voltam para ela. Porém, sem que ela pudesse evitar, todas as suas maldades, todos os seus assassinatos foram revelados. Ela, num gesto rápido, toma como refém uma criança, ameaçando jogá-la pela janela.

Alívio! Entraram os comerciais!

Pensei: Ele não será capaz de fazer esse desfecho. Ninguém faria isso a uma inocente criança! Seria demais para com os telespectadores e, principalmente, para com a sua bela atriz.

A novela reiniciou e, aliviado, percebi que o homem que escrevia novelas não fora cruel a ponto de fazê-la cometer mais esse crime. Numa seqüência, em câmara lenta, uma bala brilhante atravessa a sala e penetra na testa da vilã atravessando-lhe a cabeça. Porém o mais surpreendente estava por vir - o tiro partira dele, do homem que escrevia novelas. Ele entrava encenando um louco! E fez-se o grande desfecho. Ao final todos se abraçaram.

O homem que escrevia novelas saiu em silêncio. Sabia que a vida não era uma novela e temia pelos grandes desfechos da vida real.


Suely Sousa

25/06/2011

TELHADO DE VIDRO

Quando me debrucei para ver o tempo
Ele não mais navegava sobre o rio
Vi-o veloz atravessando os ares!
Entre nós um telhado de vidro
Frio
Seco
Inquebrável
Sobre ele joguei o calor do meu corpo.
Tentativa vã de destruí-lo!
E a vida seguiu no ritmo frenético do tempo
Indiferente ao meu desejo.

Suely Sousa

MEMORIAL FEMININO

Vestígios de lembranças,
fragmentadas pelo tempo,
dançam sobre eu contemporânea.
Mistura acre doce de sonhos e desejos!
Mulheres que fui
Mulheres que habitaram em mim
Mulheres esculpidas pelo tempo
trafegam inquietas dentro de mim.
Buscam elas a adolescente
que do casulo não despencou
ou a mulher que virou rosa
quando beijou-lhe um beija-flor,
quiçá busquem um encontro
onde tudo se mesclou
memorial vivo e pulsante
de uma mulher...
que a tantas outras se somou.

Suely Sousa

ECOS DO MUNDO (HOMENAGEM A CHICO SCIENCE)




Chico Science olhou para um mangue
e a biodiversidade o encantou,
vidas sobre vidas vivendo,
no meio do lama
viu nascer uma flor.
Brotou forte ali a ideia
de aquelas vidas exaltar
de um modo que tudo dissesse
da beleza que havia lá!
Da terra que virou lama.
Da lama que gera vidas.
Há tantas vidas na lama...
Ali a lama era vida!
E um batuque se fez no compasso
da rima da vida rasteira
rasgando o que tinha na lama
misturando a música estrangeira.
Juntaram-se os ecos do mundo
e esse som passou a gritar
o som do silêncio da lama
e da lama pôs-se a cantar!
Mas do grito veio o silêncio
de uma vida a se findar
na divisa das duas cidades
que tanto aprendera a amar.


Suely Sousa

Recife/PE